sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou
mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o
medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos
o ódio porque esse não existe,

existe apenas
o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados,
o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos
o medo da morte e o medo de depois da morte,

depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


(Carlos Drummond de Andrade)

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